Traição, desejo e libertação: agora ele sabe que vai ser corno, mas será que consegue resistir ao prazer de ver tudo acontecer diante dos seus olhos?
Capítulo 7
O fim de semana passou como um sopro. Entre beijos, risadas e toques, parecia que eu e Manu éramos duas adolescentes vivendo um amor recém-descoberto. Tudo era leve, delicioso e novo, e eu me permitia mergulhar naquela sensação sem pensar demais. Mas, ao mesmo tempo, no fundo da minha mente, uma sombra se formava. O que quer que fosse aquilo, não era só uma escapada. E eu sabia que, em breve, teria que encarar a realidade.
O domingo avançava preguiçoso, e logo eu precisaria voltar para casa. O apartamento onde Junior me esperava, sem suspeitar do que estava prestes a acontecer.
E, spoiler: foi naquele dia que nosso casamento finalmente acabou.
Quando cheguei, nada havia mudado. Ele estava no computador, cercado pelo mesmo caos de sempre. Não era bagunça, mas também não era um lar. O chão precisava de uma faxina, os móveis estavam cobertos de poeira, e um cheiro morno de comida velha impregnava o ar. A diferença era que, desta vez, eu não senti raiva. Nem frustração. Apenas certeza.
— Junior, a gente precisa conversar. — Minha voz saiu calma, mas firme.
Ele virou apenas o rosto, sem tirar as mãos do teclado.
— Fala.
Respirei fundo.
— Eu te amo, mas não estou apaixonada por você. Eu vou entregar esse apartamento. Você precisa procurar um lugar pra ficar. Se precisar, eu te ajudo.
Eu disse que ia entregar o apartamento pois eu queria me mudar dali havia tempos, era caro e eu tinha que bancar um apartamento enorme sozinha.
O som do teclado parou. Ele piscou algumas vezes antes de finalmente se virar para mim.
— Tá bom.
Só isso. Nenhuma surpresa, nenhuma indignação, nenhuma tentativa de impedir.
— Tá bom? Só isso? É tudo que você tem a dizer?
Ele deu um meio sorriso, sem humor, apenas um reflexo de resignação.
— O que mais eu posso dizer? Você já seguiu com a sua vida e eu fiquei pra trás. Agora, só me resta aceitar.
A sensação que tomava conta de mim era uma dormência espiritual, uma anestesia estranha, difícil de explicar. Eu não estava triste, nem aliviada, apenas vazia. Como se todo o desgaste dos últimos anos tivesse finalmente chegado ao seu ponto final e agora restasse apenas o silêncio.
Me sentei na varanda da sacada, observando a rua lá embaixo. As pessoas seguiam suas vidas, como se nada tivesse acontecido, como se o mundo não tivesse mudado. Mas dentro de mim, algo estava se remexendo.
E não era sobre Junior.
Eu pensava na Manu.
Eu nunca tinha gostado de mulher antes. Tudo bem, achava algumas bonitas, tinha aquela admiração estética, mas nunca passou disso. Nunca houve desejo, nunca houve aquela chama que faz o corpo pulsar. Até ela. Até aquela noite.
Depois de ter transado com Manu, eu ainda não sabia se sentia tesão por mulheres ou se era só por ela. Se era o toque dela, o jeito como me olhava, como me provocava. Ou se era simplesmente a situação, o mistério, a novidade. Uma parte de mim queria que aquilo desse certo, queria explorar, queria entender. Mas eu também sabia que, se o fogo da putaria e da novidade se extinguisse, eu voltaria para minha zona de conforto. E minha zona de conforto sempre foram os homens.
E por falar nisso…
Eu precisava de homem.
Tinha tempos que eu não sentia um tesão real, urgente, por um homem que soubesse o que estava fazendo.
Junior já foi esse cara um dia. Foi bom porque eu amava. Mas ele nunca foi um grande cara. Nunca me fez perder o juízo. Nunca me fez tremer de desejo. Era só um homem comum, que eu transformei em algo maior porque o amor faz dessas coisas. Mas agora… agora eu queria mais. Eu queria um homem de verdade. E, pela primeira vez em muito tempo, eu estava livre para procurar um.
A semana se arrastava de um jeito insuportável. Entre as obrigações do trabalho e as buscas frustradas por um novo apartamento, eu me sentia exausta. Nada parecia do meu gosto, e toda vez que entrava em algum lugar, sentia que não era ali que eu queria estar. Enquanto isso, em casa, o inferno seguia.
Eu não sabia como me comportar perto do Junior. Antes, minha intimidade com ele era algo natural. Saía do banheiro nua sem pensar duas vezes, deitava na cama de qualquer jeito, cruzava o apartamento só de calcinha sem pudor. Agora, me pegava fechando portas, evitando contato, como se precisasse criar barreiras invisíveis entre nós. Mas, no fundo, eu sabia.
Ele ainda me olhava com desejo.
E eu?
Eu sentia falta de ser comida.
Se eu pulasse nele, Junior não pensaria duas vezes. Ele me pegaria com força, me devoraria ali mesmo, sem hesitar. E, de alguma forma, isso me tentava. Eu precisava, meu corpo pedia. Mas minha mente gritava que não. Voltar pra cama dele agora seria pior do que nunca ter saído.
Foi numa quinta-feira à noite que meu celular tocou.
Manu.
— Se liga. — A voz dela soou animada, e eu já sabia que vinha merda.
— Oi, Manu. Tudo bem?
— Marquei uma reunião pra você.
Franzi a testa, confusa.
— É urgente? Porque você tá me ligando essa hora pra falar de trabalho?
— Porque é uma reunião de sentar na pica, chefe.
Soltei uma risada alta. Manu era uma ótima assistente, mas era melhor ainda em saber das minhas necessidades.
— Você cansou de mim e vai me dispensar?
— Claro que não. Mas amanhã eu vou sair com um carinha e queria que você fosse.
— Tá me propondo ménage? — Brinquei, provocando.
— Não, sua piranha! — Ela riu. — Tem um carinha pra você. Olha a foto que eu vou mandar.
A notificação apareceu na tela. Abri a imagem e encarei o sujeito.
Ele era bonito. Um pouco esquisito, mas bonito. Parecia se esforçar demais para parecer atraente nas fotos, o que me deu uma leve preguiça.
— Ele tá com cara de desesperado, Manu.
— E você também tá.
— Fala sério… não sei não.
— Vamos, pelo menos pra conhecer gente nova. Vamos!
Fiquei olhando a foto por mais um instante, mordendo o lábio. Eu precisava de algo novo. Precisava de um homem. Talvez… aquele fosse um bom começo.
— Tá, depois do trabalho. Mas quero passar em casa primeiro, fechado?
— Vou falar com eles.
Desliguei o telefone rindo, sentindo um frio gostoso na barriga. Comecei a pensar no que vestir, em como seria aquilo. Talvez fosse cedo demais para algo sério, mas só flertar não havia problema. Me permitir sentir algo novo não fazia de mim uma pessoa ruim.
Eu não percebia o sorriso satisfeito no meu próprio rosto, mas uma outra pessoa que ainda vivia na minha casa percebeu.
— Já tá marcando de sair com outros caras? Não pode esperar eu ir embora?
A voz do Junior veio carregada de uma falsa indignação. Me virei devagar para encará-lo, sentindo um gosto amargo crescer na boca.
— Ahn… Junior…
Ele tinha um ponto? Talvez. Mas eu estava tão exausta dele, tão farta da sua passividade, das suas cobranças, das suas exigências sem entrega… que a culpa nem conseguiu se instalar em mim.
E foi naquele momento que eu explodi.
— Quer saber? Não. Eu não vou deixar você me atrasar mais na vida. Eu não quero mais ter uma vida com um parasita como você. Eu vou sair e, quer saber o que mais? Eu vou dar para caralho! Como nunca antes!
Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, e o arrependimento veio instantâneo. Mas antes que eu pudesse tentar consertar, Junior apenas… sorriu.
Um sorrisinho torto, debochado.
— Tá bom. Se te faz feliz.
Filho da puta.
Agora ele ia fingir que não se importava? Fingir que era um mártir, que estava acima da situação? Eu conhecia bem esse joguinho.
A raiva cresceu dentro de mim, queimando feito gasolina sendo jogada no fogo. Eu queria gritar, queria quebrar alguma coisa. Mas, em vez disso, apenas soltei uma risada seca e fui para o quarto.
Ele que lidasse com a ideia de que, dessa vez, eu realmente estava indo embora.