Nos bastidores do maior show da sua vida, ela tenta manter a compostura — mas tudo desmorona quando Jungkook finalmente chega ao Brasil.
Capítulo 1
O estádio parecia que ia receber o Papa. Sério. O esquema de segurança era pesado, gente armada, rádios apitando o tempo todo, vans entrando e saindo. Mas o caos mesmo vinha das Armys. Elas estavam em surto total. Era piscar e uma já tinha passado pela grade, escalado o que dava, e se enfiado sabe-se lá como no meio da produção. E o mais doido? Os meninos nem tinham chegado no Brasil ainda.
Eu tava ali no meio do furacão, correndo feito uma condenada, com uma das fãs filha de algum muito importante praticamente grudada na minha perna tentando roubar algum souvenir. E ainda tinha os produtores no meu ouvido exigindo mil coisas: camarins impecáveis, som limpo, luz no grau, acesso isolado. Os coreanos eram detalhistas num nível que dava até medo. E isso tava sugando tudo de mim. Eu já não sabia se suava de cansaço, nervoso ou pura ansiedade.
No meio disso tudo, uma coisa martelava na minha cabeça: eu era uma fã também. Doida, apaixonada, igual às que estavam do lado de fora. Mas eu dei a sorte de estar aqui dentro, vivendo essa loucura de perto. Esse era o trabalho da minha vida, mas não era só trabalho. Eu queria que tudo saísse perfeito porque eu amava eles. Eu queria que se sentissem em casa, mimados, felizes. E, no fundo, queria que um deles me notasse. Só um olhar. Um sorriso. Qualquer coisa. E se eu conseguisse uma foto então… já podia morrer em paz.
No dia seguinte ia rolar a passagem de som. Falaram pra gente que não seriam eles. Mentira. Eu sabia que era mentira. Eles sempre fazem questão de testar tudo pessoalmente. São perfeccionistas. Nunca deixariam esse tipo de detalhe na mão de outra pessoa.
E foi aí que me bateu. Era naquele dia. Eu ia ver eles. De perto. Talvez até cruzasse com um no corredor. Só de pensar, meu coração já dava uma disparada. A pele arrepiava. As mãos suavam. E uma parte de mim que tava meio adormecida começou a acordar.
E, se isso acontecesse… eu não sei o que seria capaz de fazer.
No dia da passagem, aquele antes do show, eu recebi uma mensagem com a rotina fechada do dia. Eles viriam.
EU SABIA.
Comecei a surtar. De verdade. Fui direto pro espelho, o coração batendo no pescoço, e entrei no modo “estratégia de guerra”: qual cabelo usar, o que fazer com a maquiagem, como parecer linda, natural, interessante e casualmente irresistível… tudo ao mesmo tempo. Minha mente, claro, já foi longe. Imaginei sendo notada por um deles, aquele olhar rápido que se prolonga só um segundinho a mais do que o normal… e pronto. Eu já estaria na Coreia, dentro de uma mala, virando a namorada secreta do meu idol favorito — o lindo do Jungkook, o meu JK.
Sim, eu sabia que era um delírio. Um sonho idiota. E que eu precisava manter a pose. Meu trabalho dependia disso. Se eu saísse da linha ou surtasse um pouco mais do que o aceitável, eles podiam simplesmente me tirar dali. E eu fui muito avisada disso. Aliás… “avisada” é pouco. Fui alertada. Melhor ainda: ameaçada.
Respirei fundo, me levantei da cama e fui preparar tudo. Checklist da equipe, roteiros de acesso, água no camarim, conferência de som… Enquanto isso, eu engolia a ansiedade a seco. Cada passo que eu dava dentro daquele backstage era como se eu estivesse andando sobre um campo minado de emoções. Tinha que me manter calma, centrada, invisível — mesmo quando tudo dentro de mim queria explodir.
Mas eu sentia. Tinha algo diferente no ar.
Hoje era o dia.
E eu tava prestes a cruzar com eles.
Foi na hora de ouro, às 10 da manhã, que eles chegaram. Vans pretas deslizaram pelo estacionamento como se fizessem parte de um filme. Do acesso do nível superior, eu vi tudo. Eles saíram dos carros cercados de segurança e staff, e, mesmo de longe, dava pra perceber: estavam se divertindo. Riam, faziam piadas entre si, tiravam foto de tudo, como se o Brasil fosse um parque de diversões novo que eles estavam descobrindo.
O JK veio mais afastado. Tava sério, conversando com dois caras enquanto mexia no celular, com aquela postura de quem tá sempre resolvendo mil coisas ao mesmo tempo. Mas mesmo ali, ocupado, ele ainda sorria de leve, cumprimentava o pessoal da equipe com educação. Era o tipo de presença que parava tudo ao redor. O carisma escorria dele com naturalidade. Um exemplo de como um astro deve ser.
Ali parada, com as pernas bambas, falei baixinho comigo mesma, quase rosnando:
— Não seja burra. Não grita. Se controla ou vão te tirar daqui. Seja profissional, sua anta, não coloca tudo a perder agora.
E como se o universo me ouvisse, meu rádio apitou.
Era meu chefe — o escroto mandão. A voz dele já me dava náusea. Disse que eu teria que ficar no acesso da sala de imprensa.
Revirei os olhos, xinguei ele por dentro. Alto. Com gosto.
Justo ali, onde eu sabia que eles não iam passar.
Eu tinha pedido, implorado, pra ficar na área de aquecimento — aquele corredor mágico entre os camarins e o palco. Lá era o ouro. Era onde tudo acontecia fora do script. Onde dava pra ver eles soltando a voz, ensaiando uns passos, batendo papo descontraído, fazendo aquelas coisas que só acontecem quando ninguém tá filmando. Alguns artistas até vocalizavam ali, no improviso, como se o mundo lá fora simplesmente não existisse.
Mas não. Me mandaram pro canto mais morto do dia.
A sala de imprensa.
Onde só tinha jornalista careca, velho, que mal sabia quem eram os garotos — e, pior: ainda tratava a gente, as armys como idiotas por gostarem deles. Um bando de desinformado, arrogante, que falava cuspindo e reclamava de tudo, como se tivesse sido forçado a estar ali. Me dava nos nervos.
Eu fui. Puta, mas fui.
O acesso dos jornalistas só ia ser liberado mais tarde, então a porta ainda tava fechada. Pelo menos, isso significava que eu poderia sentar um pouco e acompanhar as notícias da chegada deles. Ia ficar ali, sozinha, por umas três horas… fazendo nada. Nada mesmo.
Mal tinha passado a primeira hora e o cansaço dos dias anteriores — e desse dia também — me atropelou. Minhas pernas doíam de tanto andar naquele estádio enorme, pra cima e pra baixo, resolvendo coisa atrás de coisa. Um descanso cairia bem.